Muito se fala nas empresas sobre o absenteísmo que é um alto índice de faltas injustificadas que o colaborador acumula sobre determinado período. Contudo, existe um termo que às vezes é deixado de lado quando se trata de produtividade. Estamos falando do presenteísmo.
Em um cenário corporativo cada vez mais atento à produtividade, saúde mental e sustentabilidade do trabalho, um fenômeno silencioso tem ganhado destaque entre especialistas em Recursos Humanos: o presenteísmo. Mais difícil de detectar do que o absenteísmo, o presenteísmo ocorre quando o colaborador está fisicamente presente na empresa, mas seu desempenho está comprometido por questões de saúde, emocionais ou organizacionais.
Ao contrário do que muitos imaginam, o simples fato de “não faltar” ao trabalho não garante produtividade. Funcionários que comparecem adoecidos, mentalmente exaustos ou emocionalmente fragilizados impactam diretamente na performance geral das equipes e, consequentemente, nos resultados da empresa.
Neste artigo, vamos entender em profundidade o que é o presenteísmo, quais suas causas, os efeitos nas organizações e como sua empresa pode identificar e combater esse problema.
Boa leitura!
1 – O que é presenteísmo?
Presenteísmo é o termo utilizado para descrever a situação em que um colaborador comparece ao ambiente de trabalho, mas não está em plenas condições físicas, emocionais ou psicológicas para exercer suas funções com eficiência. Diferente do absenteísmo, que é caracterizado pela ausência do profissional, o presenteísmo está associado à presença improdutiva.
Esse comportamento pode ser motivado por uma série de fatores, como doenças físicas (gripes, dores crônicas), transtornos mentais (ansiedade, depressão), pressão por desempenho ou uma cultura organizacional que desestimula licenças médicas.
Existem diferentes manifestações do presenteísmo:
- Físico: o colaborador está doente, mas continua indo trabalhar.
- Emocional: dificuldades pessoais afetam o foco e a concentração.
- Cognitivo: sobrecarga mental prejudica a capacidade de raciocínio, tomada de decisões e inovação.
Essa presença improdutiva é prejudicial tanto para o trabalhador quanto para a empresa, gerando custos ocultos que muitas vezes passam despercebidos.
2 – Principais causas do presenteísmo nas empresas
O presenteísmo não surge do nada. Ele é frequentemente sintoma de problemas mais profundos relacionados à saúde, cultura organizacional e práticas de gestão. A seguir, destacamos os principais fatores que contribuem para a sua ocorrência:
2.1 – Doenças físicas e crônicas
Colaboradores com condições como enxaquecas, dores nas costas, problemas respiratórios ou distúrbios do sono tendem a trabalhar mesmo sem estar em plena forma. A falta de acesso a cuidados de saúde ou o medo de represálias pode agravar esse comportamento.
2.2 – Transtornos psicológicos
A ansiedade e a depressão são causas significativas de presenteísmo. Muitos profissionais sentem-se culpados ou inseguros em pedir afastamento por questões de saúde mental, perpetuando o problema e comprometendo seu desempenho.
2.3 – Cultura organizacional tóxica
Empresas com culturas rígidas, foco excessivo em metas e ausência de empatia tendem a favorecer o presenteísmo. Quando colaboradores sentem que não podem faltar sem prejudicar sua imagem ou carreira, a tendência é comparecer mesmo quando não deveriam.
2.4 – Liderança autoritária ou despreparada
Gestores que minimizam o sofrimento do time, ignoram sinais de esgotamento ou pressionam por entregas podem fomentar um ambiente propício ao presenteísmo.
2.5 – Falta de políticas claras de apoio à saúde
Organizações que não oferecem suporte adequado à saúde física e mental, como convênios, programas de bem-estar e flexibilização de jornada, aumentam a incidência do problema.
3 – Efeitos do presenteísmo na produtividade e nos resultados
Embora o presenteísmo nem sempre seja visível, seus impactos são profundos e variados. Estudos internacionais demonstram que ele pode ser mais prejudicial do que o absenteísmo, pois compromete a produtividade de forma constante e silenciosa.
A seguir confira os principais impactos do presenteísmo para o colaborador:
3.1. Queda na produtividade
O colaborador presenteísta realiza suas tarefas com menor qualidade e eficiência. O tempo necessário para concluir atividades aumenta, e os resultados tendem a ser inferiores.
3.2. Aumento de erros e retrabalho
A falta de foco, atenção e clareza mental contribui para falhas em processos, que demandam correções posteriores e consomem tempo adicional da equipe.
3.3. Contágio emocional
Presenteísmo também afeta o clima organizacional. Um colaborador adoecido, desmotivado ou exausto tende a contaminar emocionalmente colegas, reduzindo o engajamento coletivo.
3.4. Adoecimento organizacional
O problema pode se tornar crônico. Equipes que operam sob pressão constante, sem tempo adequado para recuperação, tornam-se mais suscetíveis a esgotamento e doenças ocupacionais.
3.5. Prejuízos financeiros invisíveis
Estudo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine estimou que o presenteísmo gera um custo de mais de US$ 150 bilhões por ano para empresas norte-americanas — superando os gastos com absenteísmo.
No Brasil, segundo a FGV, as perdas de produtividade associadas ao presenteísmo podem ultrapassar 20% em cargos administrativos e operacionais.
4 – Presenteísmo e saúde mental: uma conexão alarmante
Há uma conexão direta entre o aumento dos casos de presenteísmo e a crise global de saúde mental no trabalho. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão e os transtornos de ansiedade custam à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade.
O esgotamento mental — também conhecido como burnout — é um dos principais gatilhos para o presenteísmo. Profissionais emocionalmente exaustos tentam se manter presentes por obrigação, mas apresentam desempenho muito abaixo do normal.
Além disso, colaboradores com medo de represálias ou julgamentos internos por se afastarem do trabalho devido a sofrimento psicológico muitas vezes optam por “resistir”, agravando seu quadro clínico.
O assunto de saúde mental é tão importante que o Ministério do Trabalho publicou a Portaria nº 1.419/2024 de 27 de agosto de 2024 trouxe alterações significativas ao Capítulo 1.5 da NR-1, incluindo a obrigatoriedade da consideração dos Fatores de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho (FRPRT) no gerenciamento de riscos ocupacionais.
A atualização da NR-1 ocorre em um momento crucial, considerando que mais de 472,3 mil trabalhadores foram afastados em 2024 devido a transtornos mentais e comportamentais, conforme dados do Ministério da Previdência Social. Esse aumento de 67% em relação a 2023 evidencia a necessidade de gestões mais humanizadas e seguras dentro das empresas.
5 – Como combater o presenteísmo na sua empresa?
Enfrentar o presenteísmo exige uma abordagem estruturada e multifatorial, envolvendo liderança, políticas internas, cultura organizacional e investimento em saúde mental.
A seguir, confira 6 dicas para reduzir o presenteísmo na sua empresa:
1. Diagnóstico e escuta ativa
Promova pesquisas de clima, avaliações periódicas de saúde e canais seguros de comunicação para entender o que leva os colaboradores ao presenteísmo.
2. Incentive o cuidado com a saúde
Estimule o uso consciente de licenças médicas e promova campanhas educativas sobre autocuidado, saúde mental e qualidade de vida.
3. Treinamento de líderes
Gestores devem estar preparados para identificar sinais de sofrimento e atuar com empatia, orientando e apoiando seus times com responsabilidade.
4. Reforce a cultura do respeito e da confiança
Elimine estigmas associados a afastamentos por motivos de saúde. Valorize a recuperação e o retorno pleno ao trabalho.
5. Adote políticas de saúde ocupacional
Inclua benefícios voltados ao bem-estar físico e mental, como programas de acompanhamento psicológico, ginástica laboral, convênios médicos abrangentes e horários flexíveis.
6. Use tecnologia para monitorar a performance com inteligência
Softwares de RH, como o QuarkRH, que acompanham indicadores de produtividade, absenteísmo, e registros de saúde ocupacional podem ajudar a identificar padrões de presenteísmo antes que eles afetem toda a organização.
Concluindo
O presenteísmo é um dos maiores desafios silenciosos enfrentados pelas empresas modernas. Ele não apenas reduz a produtividade como compromete a saúde dos colaboradores, o clima organizacional e os resultados financeiros. Sua identificação exige sensibilidade e preparo por parte da liderança e do RH.
Mais do que uma questão de presença, é preciso discutir desempenho sustentável. Promover ambientes saudáveis, com equilíbrio entre produtividade e bem-estar, é a chave para manter equipes engajadas e eficazes no longo prazo.
Ao reconhecer e combater o presenteísmo, sua empresa não apenas protege seus talentos, mas também fortalece sua cultura, seus resultados e sua reputação no mercado.
